Há
quatro anos, a Embrapa Cerrados (DF) indicou que o Brasil produziu 6.8 milhões
de litros de leite orgânico, e esse resultado representava menos de 1% dos 32
bilhões de litros do produto convencional naquele ano. Em 2015, a Embrapa
Gado de Leite calculou que o mercado de leite orgânico obteve crescimento de
30% nos três anos anteriores. Na época, a instituição apontava que o negócio
era interessante para o pecuarista, devido à maior margem de lucro.Mesmo diante
de um cenário tão promissor, e apesar do crescimento da demanda, a produção de
laticínios orgânicos em geral ainda é incipiente e enfrenta diversos gargalos.
É o que observa a coordenadora do Centro de Inteligência em Orgânicos da
Sociedade Nacional de Agricultura (SNA), Sylvia Wachsner.“O aumento na demanda
de produtos lácteos envolve desafios e oportunidades, e a saída é promover
parcerias entre produtores, pesquisadores e indústria”.
BARREIRAS
Para
a coordenadora do CI Orgânicos, um dos maiores desafios está na alimentação
animal, que só é possível com grãos orgânicos. “Num país que produz enorme
quantidade de soja e milho transgênicos, os grãos orgânicos são mais caros e
tem produção muito limitada”, declara Sylvia. Segundo ela, outros fatores
contribuem para dificultar a produção de leite orgânico.“Os adubos de compostos
orgânicos também são mais caros que os fertilizantes químicos e sintéticos,
proibidos na produção orgânica. No caso dos medicamentos, os fitoterápicos, os
naturais e a homeopatia são os únicos permitidos pela legislação orgânica.
Medicamentos sintéticos não podem ser utilizados”.
FALTA
DE ESTÍMULO
Devido
aos entraves, poucas empresas se aventuram nesse segmento. “O que desestimula
uma entrada maior de produtores de leite orgânico é a pouca pesquisa e
conhecimento em relação às técnicas a serem utilizadas para desenvolver uma
atividade com boa produtividade, sem o uso de antibióticos e vacinas”, assinala
Sylvia. “Na produção de leite orgânico deve ainda se pensar no conceito de
bacias leiteiras, que permitem transportar caminhões cheios de leite dos
produtores até a indústria de transformação”. Por outro lado, a especialista
não deixa de considerar a forte crise pela qual a produção de leite
convencional está atravessando, “devido aos elevados preços dos insumos como o
milho, a soja e o algodão, que subiram mais que a correção do preço do leite, o
que diminui a remuneração do produto e o desestimula”.
MARCAS
Sylvia
lembra que hoje em dia há pequenos laticínios e empreendimentos do setor
orgânico que produzem derivados do leite (no caso, queijos, manteiga e iogurtes
comercializados de forma local ou em municípios próximos às regiões
produtoras). “Podemos contar nos dedos as empresas que produzem leite e
derivados com capacidade de comercialização nas principais cidades. Além disso,
os preços são bastante superiores em relação aos laticínios tradicionais”,
aponta Sylvia. Dentre as poucas representantes do setor, a Fazenda Nata da
Serra, localizada no interior de São Paulo, produz queijos, iogurte e manteiga.
A Fazenda Timbaúba, de Alagoas, fabrica leite UTH, iogurte, requeijão e
manteiga. Na Paraíba, a Fazenda Tamanduá também produz queijos.
“São
empresas que, apesar dos problemas de logística, comercializam seus produtos em
canais de varejo menores, minimercados, feiras-livres, lojas, e entregam cestas
em domicílio”, ressalta a coordenadora da SNA. No entanto, o mercado continua a
sofrer baixas. A Fazenda da Toca, de São Paulo, por exemplo, apesar de ter
investido de maneira forte na produção de iogurtes orgânicos, e de ter acesso a
uma das maiores redes de supermercados do País, está abandonando o setor.
BENEFÍCIOS
Especialistas
atestam que o leite orgânico conta com uma grande quantidade de nutrientes,
possuindo níveis elevados de ácidos gordos e ômega 3. Em sua produção, não são
utilizados pesticidas, insumos sintéticos ou químicos para tratar dos pastos ou
da saúde dos animais. Antibióticos, hormônios, aditivos promotores de
crescimento e estimulantes de apetite também ficam fora do processo produtivo,
assim como a ração obtida de organismos geneticamente modificados e vacinas
fabricadas com a tecnologia da transgenia. Além disso, e de acordo com os
princípios da sustentabilidade, a produção orgânica promove o bem-estar animal
e protege os recursos naturais, deixando a água e os solos mais saudáveis.
MERCADO
GLOBAL
Em
2015, o mercado mundial de lácteos orgânicos foi avaliado em US $ 7,7 bilhões,
o que representa 11 % do total do mercado global de alimentos e bebidas
orgânicos. O maior comércio do gênero está na Europa, e continua a crescer. No
Reino Unido, o leite é comercializado sob a bandeira da marca própria dos
varejistas (private label). Em 2014, os Estados Unidos gastaram cerca de US$ 35
bilhões em alimentos orgânicos, dos quais perto de US $ 5,1 bilhões foi
destinado à compra de laticínios, conforme informação do Nutrition Business
Journal. Redes varejistas como a WalMart procuram atrair mais produtores devido
à grande demanda.
Fonte:SNA/RJ
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