quinta-feira, 20 de junho de 2024

Os Iogurtes orgânicos podem realmente serem considerados um alimento saudável?

Uma equipe liderada por pesquisadores da Universidade de Leeds, no Reino Unido, analisou a tabela nutricional de mais de 900 produtos e concluiu que muitos são feitos com uma grande quantidade de açúcar. Isso inclui até mesmo aqueles classificados como orgânicos. Em alguns casos, os iogurtes superam até mesmo refrigerantes na quantidade de açúcar usada na fabricação. Somente os iogurtes naturais e do estilo grego foram considerados produtos com baixo teor desse ingrediente.A divulgação do estudo ocorre no mesmo momento em que o Ministério da Saúde brasileiro negocia um acordo com a indústria de alimentos para reduzir o açúcar em produtos industrializados, entre eles os iogurtes. O consumo em excesso de açúcar é comum entre brasileiros e está associado um maior risco de doenças crônicas não transmissíveis, como diabetes. "O resultado desse estudo é muito preocupante, porque iogurtes são vendidos como produtos saudáveis e são muito consumidos por crianças", diz a nutricionista Ana Clara Duran, do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Alimentação da Unicamp. "Quando ele é natural, é de fato saudável, mas, depois que recebe corante, açúcar e outros aditivos, vira um produto ultraprocessado. O pai ou a mãe acha que está fazendo algo legal ao dar iogurte para o filho, mas não está. E isso é preocupante também para adultos, porque 54% da população está acima do peso e quase 20% está obesa."

No entanto, os consumidores brasileiros dificilmente têm como saber a quantidade de açúcar dos iogurtes vendidos no país. Os fabricantes não são obrigados a informar seu teor nas tabelas nutricionais dos produtos disponíveis por aqui - e apenas uma pequena parcela deles o faz voluntariamente. Mas há uma proposta para mudar isso em debate na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).Eles foram divididos em oito categorias mais comumente usadas pelos supermercados: infantil, sobremesas, alternativas a produtos lácteos, saborizados, de frutas (in natura ou na forma de purê), natural/grego e orgânicos. O estudo mostrou que a categoria que mais contém açúcar é a de sobremesas, com 16,4g a cada 100g do produto em média. No entanto, foram incluídos produtos que não contêm iogurte ou queijo cremoso, como mousse de chocolate e cremes de caramelo, o que influenciou neste resultado. A segunda categoria mais açucarada foi a de iogurtes orgânicos, com 13,1g a cada 100g. Os infantis contêm 10,8g a cada 100g.O refrigerante à base de cola mais popular do mercado contém 10,6g a cada 100ml.

Quanto açúcar há nos iogurtes?

Sobremesas - 16,4g a cada 100g

Orgânicos - 13,1g a cada 100g

Saborizados - 12g a cada 100g

Com fruta - 11,9g a cada 100g

Infantis - 10,8g a cada 100g

Alternativas a produtos lácteos - 9,2g a cada 100g

Bebidas lácteas - 9,1g a cada 100g

Natural e grego - 5g a cada 100g

Para serem classificados como produtos com baixo teor de açúcar, os iogurtes devem ter no máximo 5g a cada 100g. Só 9% dos produtos pesquisados pelos pesquisadores da Universidade de Leeds se encaixam nisso. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que açúcares livres, o que inclui aqueles adicionados a alimentos industrializados, não ultrapassem 10% da ingestão calórica diária, o equivalente a 50g. Maiores benefícios à saúde podem ser obtidos se este índice for de 5%, ou 25g.O limite de 5% é o recomendado pela Associação Americana do Coração, organização sem fins lucrativos dedicada ao combate de doenças cardíacas e vasculares, para crianças entre 2 e 12 anos. Aquelas com menos de 2 anos não devem consumir nenhum açúcar livre.

Maioria dos produtos brasileiros não informa quantidade de açúcar

No Brasil, os consumidores não têm como saber a quantidade de açúcar presente na grande maioria dos produtos industrializados. As regras para os rótulos de alimento são estabelecidas pela Anvisa, e a norma atual para tabelas nutricionais, vigente desde 2003, não obriga fabricantes a informar o teor de açúcar do alimento."Não havia na época em que foram estabelecidas essas regras tantas evidências associando o consumo de açúcar de alimentos ultraprocessados e seu impacto como causa de doenças crônicas, como diabetes, o excesso de peso e cárie dental", explica a nutricionista Ana Paula Bortoletto, líder do programa de Alimentação Saudável do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec)."As empresas dizem que não informam isso por ser um segredo de fabricação e porque não são obrigadas a fazer. Acreditam que é uma estratégia de mercado ou querem ocultar esse dado."

Duran, da Unicamp, diz que, diante da falta da obrigatoriedade, a maior parte dos produtos vendidos em supermercados brasileiros não traz essa informação. "Quando isso ocorre, a empresa tem algum interesse em informar isso, porque quer ressaltar que se trata de um produto com baixo teor de açúcar, ou porque internacionalmente já se preocupa em informar isso e faz o mesmo no Brasil", diz Duran. O único indício que o brasileiro tem hoje de que um produto contém muito açúcar é a lista de ingredientes presente no rótulo. Aparecem primeiro aqueles que foram usados em maior quantidade na fabricação. Mas um obstáculo é que os fabricantes muitas vezes usam vários tipos de açúcar, explica Bortoletto.

"Ele pode ser empregado como xarope, maltose, frutose. Então, em vez de estar agrupado, o açúcar surge nesta lista de forma diluída, e, mesmo querendo saber quanto foi usado no produto, o consumidor não tem como descobrir se tem bastante açúcar ou não. "Ao mesmo tempo, a maioria dos brasileiros costuma consumir açúcar demais. A Pesquisa de Orçamentos Familiares de 2008/2009, a mais recente a tratar do tema, identificou esse hábito em 61,3% da população. Na média, a ingestão de açúcar livre foi de 14% do total calórico diário, acima dos 10% recomendados pela OMS - quando supera esse limite, o consumo é considerado excessivo. "O consumo de açúcar vem aumentando no Brasil, mas não o de mesa e sim aquele adicionado a alimentos ultraprocessados, porque é um ingrediente barato, e a indústria se aproveita disso e coloca uma quantidade elevada, o que adapta o paladar do consumidor a consumir coisas cada vez mais doces", diz Bortoletto. Duran destaca que esse hábito pode ser especialmente nocivo na infância. "Isso pode acostumar o paladar da criança pela vida inteira, fazendo com que prefira alimentos mais doces."

Fonte: https://www.bbc.com/


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