Uma equipe liderada por
pesquisadores da Universidade de Leeds, no Reino Unido, analisou a tabela
nutricional de mais de 900 produtos e concluiu que muitos são feitos com uma
grande quantidade de açúcar. Isso inclui até mesmo aqueles classificados como orgânicos.
Em alguns casos, os iogurtes superam até mesmo refrigerantes na quantidade de
açúcar usada na fabricação. Somente os iogurtes naturais e do estilo grego
foram considerados produtos com baixo teor desse ingrediente.A divulgação do
estudo ocorre no mesmo momento em que o Ministério da Saúde brasileiro negocia
um acordo com a indústria de alimentos para reduzir o açúcar em produtos
industrializados, entre eles os iogurtes. O consumo em excesso de açúcar é
comum entre brasileiros e está associado um maior risco de doenças crônicas não
transmissíveis, como diabetes. "O resultado desse estudo é muito
preocupante, porque iogurtes são vendidos como produtos saudáveis e são muito
consumidos por crianças", diz a nutricionista Ana Clara Duran, do Núcleo
de Estudos e Pesquisas em Alimentação da Unicamp. "Quando ele é natural, é
de fato saudável, mas, depois que recebe corante, açúcar e outros aditivos,
vira um produto ultraprocessado. O pai ou a mãe acha que está fazendo algo
legal ao dar iogurte para o filho, mas não está. E isso é preocupante também
para adultos, porque 54% da população está acima do peso e quase 20% está
obesa."
No entanto, os consumidores
brasileiros dificilmente têm como saber a quantidade de açúcar dos iogurtes
vendidos no país. Os fabricantes não são obrigados a informar seu teor nas
tabelas nutricionais dos produtos disponíveis por aqui - e apenas uma pequena
parcela deles o faz voluntariamente. Mas há uma proposta para mudar isso em
debate na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).Eles foram
divididos em oito categorias mais comumente usadas pelos supermercados:
infantil, sobremesas, alternativas a produtos lácteos, saborizados, de frutas (in
natura ou na forma de purê), natural/grego e orgânicos. O estudo mostrou
que a categoria que mais contém açúcar é a de sobremesas, com 16,4g a cada 100g
do produto em média. No entanto, foram incluídos produtos que não contêm
iogurte ou queijo cremoso, como mousse de chocolate e cremes de caramelo, o que
influenciou neste resultado. A segunda categoria mais açucarada foi a de
iogurtes orgânicos, com 13,1g a cada 100g. Os infantis contêm 10,8g a cada
100g.O refrigerante à base de cola mais popular do mercado contém 10,6g a cada
100ml.
Quanto açúcar há nos iogurtes?
Sobremesas - 16,4g a cada 100g
Orgânicos - 13,1g a cada 100g
Saborizados - 12g a cada 100g
Com fruta - 11,9g a cada 100g
Infantis - 10,8g a cada 100g
Alternativas a produtos lácteos - 9,2g a cada 100g
Bebidas lácteas - 9,1g a cada 100g
Natural e grego - 5g a cada 100g
Para serem classificados como
produtos com baixo teor de açúcar, os iogurtes devem ter no máximo 5g a cada
100g. Só 9% dos produtos pesquisados pelos pesquisadores da Universidade de
Leeds se encaixam nisso. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que
açúcares livres, o que inclui aqueles adicionados a alimentos industrializados,
não ultrapassem 10% da ingestão calórica diária, o equivalente a 50g. Maiores
benefícios à saúde podem ser obtidos se este índice for de 5%, ou 25g.O limite
de 5% é o recomendado pela Associação Americana do Coração, organização sem
fins lucrativos dedicada ao combate de doenças cardíacas e vasculares, para
crianças entre 2 e 12 anos. Aquelas com menos de 2 anos não devem consumir
nenhum açúcar livre.
Maioria dos produtos brasileiros não informa quantidade de açúcar
No Brasil, os consumidores não têm como saber a quantidade de açúcar presente na grande maioria dos produtos industrializados. As regras para os rótulos de alimento são estabelecidas pela Anvisa, e a norma atual para tabelas nutricionais, vigente desde 2003, não obriga fabricantes a informar o teor de açúcar do alimento."Não havia na época em que foram estabelecidas essas regras tantas evidências associando o consumo de açúcar de alimentos ultraprocessados e seu impacto como causa de doenças crônicas, como diabetes, o excesso de peso e cárie dental", explica a nutricionista Ana Paula Bortoletto, líder do programa de Alimentação Saudável do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec)."As empresas dizem que não informam isso por ser um segredo de fabricação e porque não são obrigadas a fazer. Acreditam que é uma estratégia de mercado ou querem ocultar esse dado."
Duran, da Unicamp, diz que,
diante da falta da obrigatoriedade, a maior parte dos produtos vendidos em
supermercados brasileiros não traz essa informação. "Quando isso ocorre, a
empresa tem algum interesse em informar isso, porque quer ressaltar que se
trata de um produto com baixo teor de açúcar, ou porque internacionalmente já
se preocupa em informar isso e faz o mesmo no Brasil", diz Duran. O único
indício que o brasileiro tem hoje de que um produto contém muito açúcar é a
lista de ingredientes presente no rótulo. Aparecem primeiro aqueles que foram
usados em maior quantidade na fabricação. Mas um obstáculo é que os fabricantes
muitas vezes usam vários tipos de açúcar, explica Bortoletto.
"Ele pode ser empregado
como xarope, maltose, frutose. Então, em vez de estar agrupado, o açúcar surge
nesta lista de forma diluída, e, mesmo querendo saber quanto foi usado no
produto, o consumidor não tem como descobrir se tem bastante açúcar ou não. "Ao
mesmo tempo, a maioria dos brasileiros costuma consumir açúcar demais. A
Pesquisa de Orçamentos Familiares de 2008/2009, a mais recente a tratar do
tema, identificou esse hábito em 61,3% da população. Na média, a ingestão de
açúcar livre foi de 14% do total calórico diário, acima dos 10% recomendados
pela OMS - quando supera esse limite, o consumo é considerado excessivo. "O
consumo de açúcar vem aumentando no Brasil, mas não o de mesa e sim aquele
adicionado a alimentos ultraprocessados, porque é um ingrediente barato, e a
indústria se aproveita disso e coloca uma quantidade elevada, o que adapta o
paladar do consumidor a consumir coisas cada vez mais doces", diz
Bortoletto. Duran destaca que esse hábito pode ser especialmente nocivo na
infância. "Isso pode acostumar o paladar da criança pela vida inteira,
fazendo com que prefira alimentos mais doces."
Fonte: https://www.bbc.com/
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