No ano de 2001, em meio às montanhas próximas da Serra da Mantiqueira, o engenheiro agrônomo Edson Hiroshi Seó procura um terreno onde possa realizar seu sonho. A escolha é criteriosa, bem elaborada com base na longa experiência do ecólogo: o local não deverá conter histórico de cultivos agrícolas, pois o solo estaria contaminado com agrotóxicos. Tão pouco deverá ser uma mata fechada que necessitará ser derrubada para as futuras construções. Deverá ser um local de elevada altitude para que a poluição hídrica e atmosférica da vizinhança não prejudique os futuros moradores.
Uma ecovila é como um loteamento residencial no qual seus habitantes adotam práticas sustentáveis como captação de água de chuva, saneamento ecológico, utilização de madeira certificada e cultivo de hortaliças orgânicas.
A Ecovila Clareando está localizada no município de Piracaia em Área de Preservação Ambiental (APA) e possui 97 lotes que variam de 1000 a 1400 m2, sendo que 67 já estão vendidos. Para o casal Sandra e Hiroshi, idealizadores da ecovila, a concretização deste espaço não se realizou apenas com os seus esforços, mas sim devido ao apoio de toda comunidade. Segundo as palavras de Hiroshi, “a ecovila era apenas um sonho, mas sonhamos juntos e hoje é realidade”.
Atualmente a Ecovila Clareando possui 19 casas construídas, das quais 9 famílias já fixaram suas residências e conta com 3 projetos aprovados em fase de início de obras. São médicos, jornalistas, advogados, engenheiros, professores, pessoas de diferentes origens, habilidades e conhecimentos que fizeram desta comunidade sua família e transformaram suas vidas.
Os proprietários aos poucos estão se aproximando, cada um de forma diferente, até se deslocarem definitivamente para a ecovila. Alguns se mudaram para o município de Piracaia, transferindo seu emprego para esta região e, enquanto acompanham suas obras, alugam provisoriamente uma casa na cidade. Outros continuam trabalhando em suas cidades de origem, como São Paulo e Campinas, e visitando a ecovila semanalmente.
A exemplo dos jornalistas freelancers Giuliana e Edilson Alguns, há os que moram e trabalham dentro da ecovila, atuando como autônomos. Para construir sua casa, o casal utilizou diversas técnicas de bioconstrução, como o tijolo de adobe, bloco de terra comprimida (BTC), taipa de mão e cordwood, uma técnica norte-americana baseada no uso da madeira que restou da estruturação da casa.
Como se não fosse o bastante para uma casa ecovilense, foi instalado um “banheiro seco” na suíte do casal.
A proposta do casal foi desenvolver uma moradia ecológica experimental, contendo diferentes técnicas de construção para demonstrar na prática quais as vantagens e desvantagens de cada uma delas. Por aparentar simples, alguns leigos que visitam a casa questionam se a finalidade dela não é apenas para o público de baixa renda. Giuliana afirma que “simplicidade não é sinônimo de pobreza, e sim uma questão de escolha”. Até mesmo porque, dependendo do método de construção, o investimento em mão de obra poderá encarecer o projeto.
Reflexões sobre o conceito de sustentabilidade
As grandes cidades estão cada vez mais insustentáveis. Mas afinal, o que é ser sustentável? O conceito “sustentabilidade”, muito utilizado hoje em dia pelas empresas, tem um significado importante, mas pouco compreendido e mais difícil ainda de ser praticado.
Sustentabilidade deriva do verbo sustentar, do ato de dar sustento. Por exemplo, supondo que eu vá a uma lanchonete todos os dias e me alimente apenas de cheeseburger, batata fritas e cachorro quente. Como esses alimentos são agradáveis ao meu paladar, meu estômago ficará cheio e satisfeito, porém, meu organismo vai continuar sem os nutrientes essenciais. Vamos chamar essas comidas de “alimentos ocos”, porque são alimentos de alto teor de açúcares, carboidratos e gorduras, nos deixam supostamente satisfeitos, mas não garantem vitaminais e sais minerais fundamentais para a saúde. Se eu continuar a ingerir somente estes alimentos, chegará ao momento em que estarei obeso e desnutrido (parece paradoxal, mas muitos casos de obesidade são acompanhados da desnutrição), além de comprometer todo meu sistema imunológico. Dessa forma, os alimentos que eu ingeri não me sustentaram ou não me deram sustância e certamente estarei com diversos problemas de saúde. Portanto, meu modo de vida foi insustentável.
De maneira análoga, a cidade ao longo dos séculos, esteve crescendo sem se preocupar com a qualidade do meio ambiente. A qualidade de seus “alimentos” (solo, água e do ar) que garantem a viabilidade e manutenção da vida urbana está comprometida devido ao uso indiscriminado e contínuo dos recursos naturais e ao descarte irresponsável de resíduos tóxicos e poluentes. Se continuarmos a manter esse modo de crescimento urbano certamente chegaremos ao colapso. Nesse contexto, o movimento das ecovilas resulta da necessidade de uma nova consciência ambiental e está se expandindo cada vez mais, atraindo adeptos desejosos de mudar a si mesmos para garantir a vida e exuberância da natureza.
Para maiores informações, vide http://www.clareando.com.br.
Amo a idéia de encontrar algo similar aqui no Rio Grande do Sul.
ResponderExcluirExcelente post , gostaria de ver uma ideia assim aqui no interior de SP.
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