A Estância Demétria em Botucatu tem tradição com produtos orgânicos, especialmente os alimentícios. Foi lá que os farmacêuticos e irmãos Sandra e Marcos Caram escolheram para montar a fábrica de produtos cosméticos orgânicos. Movidos pela busca de unir bem-estar pessoal com a preservação do planeta, eles passaram a fabricar produtos sem a adição de química desde 2006. Quatro anos depois são 60 itens.
A ideia surgiu quando os irmãos mantinham uma farmácia de manipulação na cidade de Santos, litoral paulista, comenta Marcos. “O contato com os clientes fez com que a gente percebesse a necessidade de produtos que não provocassem alergias, intoxicações de todos os tipos. Optamos pelos orgânicos que não levam em sua fórmula produtos químicos e diminuímos a possibilidade de irritabilidade.”A fábrica foi fundada em 2004 mas somente dois anos depois foi lançado o primeiro produto.
No início foram duas as dificuldades: o público não entendi a diferença do cosmético convencional e não havia tantos pontos de vendas, explica o farmacêutico. A saída foi investir na divulgação. A empresa fez fôlder, folhetos explicativos e fez um ‘boca-a-boca’ intensivo. “Passamos a explicar que os produtos não tinham substâncias químicas e que o cultivo da planta não continha agrotóxico, o que influenciava no meio ambiente.” A certificação pelo Instituto Biodinâmico (IBD) garantiu também a parte social do negócio, frisa Caram. “A certificação orgânica abrange um contexto da parte de saúde, do meio ambiente e a social que garante que se usarmos uma matéria-prima extrativista, como o óleo de castanha-do-pará, não há trabalho escravo na extração. Todos os nossos fornecedores têm que ser certificados.”O maior mercado consumidor dos cosméticos orgânicos ainda são os países europeus, onde a consciência dos benefícios é mais aguçada, ressalta o farmacêutico.
“Nós não exportamos, mas há consultas da Alemanha, Inglaterra e até dos Estados Unidos e Ásia. No Brasil, o melhor mercado para o segmento ainda é o Paraná, Rio de Janeiro e São Paulo. Comercializamos nossos produtos em farmácias homeopáticas, casas de produtos naturais. Lá fora o consumo de cosméticos orgânicos é bem mais acentuado que no Brasil. A Alemanha é um dos países que mais consomem orgânicos tanto os cosméticos como alimentícios. A situação dos cosméticos é bem mais avançada por lá.”
Mercado em expansão
Para os irmãos Caram, o consumo dos cosméticos orgânicos aumentam 20% ao ano, movidos pela maior oferta de matéria-prima somada à onda verde que invade o País e força a abertura de novos pontos de venda. “No início não só a oferta de matéria-prima era muito restrita como também as lojas. Antigamente, os produtos eram vendidos somente em farmácias homeopáticas.”Os consumidores que experimentam os cosméticos orgânicos se tornam fiéis, explica a farmacêutica Sandra Caram.
“As matérias-primas certificadas contêm óleos vegetais, ceras naturais muito semelhante a composição da gordura da pele. A absorção é praticamente total. O processo não altera as propriedades da substâncias, mantêm as propriedades originais. O produto final é praticamente 100% natural.” Ela explica que no cosmético convencional o processo é diferente. “O produto orgânico não tem substâncias químicas e as matérias-primas não sofrem nenhum efeito. Não há diminuição do princípio ativo. Já no cosmético convencional, dependendo do processo de utilização, esse princípio tem sua capacidade de ação diminuída.
”Exemplificando ela diz que o creme de mãos, lançado este ano pela empresa contém framboesa, manteiga de cupuaçu e buriti. “A framboesa absorve os raios solares, não chega a agir como um filtro solar, mas protege de forma natural. A manteiga de cupuaçu ajuda na hidratação por manter a quantidade de água interna do corpo. O buriti é rico em vitamina A. Hidrata profundamente e protege dos raios ultravioletas. Não tem perigo de alergia.” A aromatização dos cosméticos orgânicos é diferente do convencional, segundo Caram. “Aromatizamos os cosméticos com óleos essenciais que são extraídos de planta. Nos cosméticos convencionais as essências são sintéticas. São necessários mais ou menos 200 substâncias químicas para fazer uma essência sintética.”
Linha de produtos
A empresa de Botucatu usa matérias-primas estrangeiras e nacionais. Na própria estância Demétria há plantadores que fornecem camomila, calêndula e alecrim, todos certificados. Grande parte das matérias-primas, no entanto, são da Amazônia e uma pequena parte chegam do exterior. “Temos uma linha de óleos essenciais que podem ser usados para perfumar ambientes. Ou para utilizar no corpo. O uso pessoal tem que ter os óleos carreadores, óleo de calêndula e camomila. Tem uma linha de óleos para o corpo, para pós banho ou massagem. Além disso, temos sabonetes, cremes para as mãos, hidratantes e creme para ser usado ao redor dos olhos, desodorantes corporais, desodorantes para o meio ambiente e uma linha de sabonete cremoso e açaí.”
Embalagens condizentes com o produto
Um produto ecologicamente correto não pode ter uma embalagem que não acompanhe o conceito. Esta é a opinião do diretor da Associação Brasileira de Cosmetologia, Emiro Khoury. “Não faz sentido. A embalagem tem que seguir o conceito. Tenho visto produtos dentro de um frasquinho, caixinha com bula e fita. Mesmo que a fita seja reciclável ela usou insumo e criou uma cadeia de uso, de destruição. Existem muitas coisas que têm que acontecer ao mesmo tempo para que a gente veja no futuro a coerência que os radicais cobram hoje.” O farmacêutico Marcos Caram concorda com a opinião de Khoury. “Utilizamos plásticos biodegradáveis que sofrem compostagem e se autodegradam, depois de um tempo. As caixas de papelão são 100% recicladas. Temos a preocupação com o descarte final.”
Fonte:http://www.jcnet.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário