Já conhecidos no setor alimentício, os produtos feitos a partir de matérias-primas cultivadas sem a utilização de agrotóxicos ganham novos segmentos da indústria, como têxtil e cosméticos. É o caso da cooperativa têxtil e de confecção Natural Fashion, que apostou nos orgânicos como forma de diferenciar seus produtos frente a entrada de importados chineses no mercado nacional. Já a Beraca, empresa que passou de importadora a produtora de matérias-primas naturais para a indústria cosmética, vê na mudança de hábitos dos consumidores um potencial de negócios.No ano 2000, dez empresas de confecção e tecelagem paraibanas se uniram para buscar um diferencial para seus produtos e enfrentar a concorrência com os importados asiáticos.
Em parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), descobriram o algodão colorido, produzido sem a utilização de corantes e o consequente despejo de efluentes líquidos tóxicos. Hoje, são 27 cooperados, 23 deles com fábricas próprias na cidade de Campina Grande, que produzem 5 mil peças ao mês, abastecendo uma marca própria e vendas para grandes empresas de surfwear. Numa prática de reaproveitamento de resíduos, as sobras da produção são utilizadas na fabricação de bonecas, bichinhos e almofadas. "Nossa diferença é trabalhar a cadeia produtiva como um todo, do plantio e descaroçamento, passando pela certificação, fiação, tecelagem e fabricação das peças", conta a diretora presidente da Coopnatural, Maysa Gadelha. Isso, segundo ela, explica o preço 30% mais alto do produto, em relação ao comum, pois a empresa paga mais em todo o processo.
O faturamento em 2011 foi de R$ 1,5 milhão, mantendo o valor registrado em 2010, mas crescendo em relação a 2009, quando a cooperativa obteve R$ 1 milhão. "Já fomos maiores, quando exportávamos mais, até 2008. Com a crise americana e europeia, veio o crescimento no mercado interno, que compensou, de alguma forma, as perdas", conta a empresária. As exportações, que chegaram a consumir até 50% dos produtos, hoje representam cerca de 10% da produção, para países como Japão, Itália e Noruega. Para 2012, a expectativa é atingir R$ 1,7 milhão em faturamento. "Contamos com o esclarecimento com relação ao algodão orgânico e à produção sustentável, o que cresce com o aumento do nível de educação do brasileiro", diz.
O aumento da conscientização também é a esperança da Beraca. "Este é nosso principal desafio de mercado, esperar que o consumidor final tenha mais consciência em buscar um produto que não agrida seu corpo, para que nossos clientes, que fabricam os cosméticos acabados, busquem mais nossos produtos", afirma do diretor de negócios da empresa Filipe Sabará.A companhia, que completa 56 anos, começou com a distribuição de produtos químicos para segmentos diversos e, na década de 1980, passou a importar da Europa produtos naturais. Em 2000, a empresa instalou uma fábrica própria na Amazônia para passar a produzir matérias primas a partir da diversidade biológica brasileira. A fabricação teve início com óleos vegetais, posteriormente expandindo o leque para extratos, esfoliantes e argilas.
"A evolução dos naturais foram os orgânicos, o que veio do mercado de alimentos", conta Sabará. A empresa possui hoje seis fábricas, sendo duas voltadas para a produção de ingredientes para a indústria cosmética e farmacêutica. O faturamento em 2011 foi de R$ 118 milhões, alta de 10% sobre 2010, sendo 30% do negócio representado pelo segmento de Health & Personal Care. A capacidade de produção é de 400 toneladas ao ano de matérias primas.Os produtos são cerca de 20% mais caros que os comuns. "Há todo um custo para isolar os materiais, em áreas, embalagens e transportes diferentes. Além disso, há custo para a certificação das áreas agrícolas e das fábricas", explica o executivo. A empresa exporta de 40% a 60% da sua produção, para países como EUA, Inglaterra, França, Alemanha e Itália.
"Não sentimos um decréscimo nas vendas nesses mercados, mas houve sim uma diminuição no número de novos projetos, o que deixou as exportações estáveis", relata o diretor. Isso se explica, segundo ele, porque o mercado de orgânicos é menos sensível a variações no cenário econômico. "O consumidor que opta por orgânico não volta a consumir químicos, mesmo na crise", diz.Em 2011, a empresa investiu na abertura de uma empresa nos Estados Unidos. Em pesquisa e desenvolvimento, o aporte é de 3,6% da receita. Para 2012, a companhia aposta na expansão de suas equipes no mercado externo, com projeção de crescimento entre 15% e 20%, na expectativa de uma retomada do mercado.
Fonte: http://www.dci.com.br
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