Tomates da Holanda, pepinos da Espanha, bananas da Colômbia - um passeio pela área de orgânicos dos supermercados alemães é uma viagem culinária ao redor do mundo. De 15 a 18 de fevereiro de 2012, a cidade de Nurembergue, na Baviera, abriga a maior feira de orgânicos do mundo: a BioFach. O evento reúne cerca de 2.500 expositores de todo o mundo, abrangendo, além de alimentos, outros itens, como cosméticos e tecidos.
A Alemanha é o segundo maior consumidor de orgânicos. Somente em 2011, as vendas de tais produtos cresceram 10% no país. Nesse mesmo ano, importaram-se 18 mil toneladas de tomates "bio" - termo utilizado para orgânico em alemão. Porém, cada vez mais produtores alemães desistem da agricultura orgânica - que não utiliza aditivos químicos sintéticos ou transgenia -, para plantar milho, usado na geração de biogás. Hoje, é a importação que sustenta o boom de orgânicos da Alemanha.
Dependência de importados
No caso das batatas, por exemplo, a participação alemã na produção ainda é relativamente grande: 72%. Mas sem os importados, algumas prateleiras de supermercados especializados em orgânicos ficariam vazias. "Cerca de 50% das cenouras são importadas, e esse número chega a 80% ou mais para pimentões e tomates", disse Alexander Gerber, diretor da Associação de Produtores de Alimentos Orgânicos (BÖLW, na sigla em alemão). "O leite, por exemplo, vem da Áustria e da Dinamarca; a carne de porco, da Dinamarca, da Holanda, da Itália.” Um a cada cinco consumidores alemães compra produtos orgânicos pelo menos uma vez por semana. Todos os itens devem estar disponíveis em todas as estações do ano. Para suprir a demanda por orgânicos, a Alemanha recorre principalmente a seus vizinhos europeus - estando os países do Leste se transformando no celeiro de orgânicos alemão.
Mas o sistema estende-se mundo afora, principalmente quando se trata de arroz, café e banana. Do Paquistão, do Equador e do Brasil, as mercadorias são trazidas para a Alemanha. Para manter a qualidade dos produtos durante a viagem, a logística é complicada e cara. "Além disso, todas as etapas, da produção à entrega, precisam ser controladas. Um grande esforço para que, no final, tenhamos um produto orgânico seguro", explica Gerber.
Certificação européia determina produção mundial
Quem quiser entrar no mercado alemão precisa produzir de acordo com os padrões europeus e aplicar o selo orgânico do continente. Tais certificações dificultam a produção de orgânicos fora da Europa. "Para o comércio justo, há padrões globais; para os orgânicos, não", diz Markus Arbenz, diretor da Federação Internacional do Movimento da Agricultura Orgânica (IFOAM, na sigla em inglês). Cada país produz de acordo com seus próprios padrões. Países como a Índia, Argentina e Costa Rica entraram em acordo com a Comissão Europeia (CE) sobre procedimentos de importação simplificados. Entretanto, outros produtores orgânicos emergentes, como a China, são alvos cada vez mais freqüente da crítica. Organismos oficiais chineses especulam a possibilidade de comprar a certificação na Europa. O maior escândalo do setor dos últimos anos foi, porém, protagonizado por produtores da Itália -- o principal exportador para o mercado alemão. Mercadorias no valor de 220 milhões de euros com selos orgânicos falsificados teriam sido vendidas ao exterior, incluindo a Alemanha.
Índia e Brasil
Em 2012, a Índia é o destaque da feira BioFach. Tradicionalmente, o país vende principalmente chá orgânico para a Alemanha. Mas agora a Índia quer se beneficiar com uma nova tendência: a "moda orgânica". "O algodão orgânico é muito apreciado na Europa, mas nos concentramos em duas vertentes: os tecidos e as especiarias", disse Welle Asit Tripathy, presidente da Sociedade de Promoção à Exportação indiana (APEDA).Os alemães gastaram cerca de 6,5 bilhões de euros com produtos orgânicos em 2011. A Alemanha, enquanto importadora de orgânicos, ficará cada vez mais dependente de produtores estrangeiros para suprir sua demanda por alimentos de qualidade. E o Brasil também entrou nessa onda. Na BioFach 2012, há 26 expositores brasileiros. Um deles é o Projeto Organics Brasil, que reúne 74 empresas exportadoras de produtos orgânicos. "A crise econômica não deve ter impacto significante nas negociações, especialmente as fornecedoras de matérias-primas que servem de base para alimentos, cosméticos e fármacos", prevê o coordenador-executivo do projeto, Ming Liu, destacando que, no Brasil, o mercado interno de orgânicos também está aquecido.
Fonte:Deutsche Welle
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