A falta de incentivos de todos os tipos, inclusive da desburocratização para regulamentação e a ausência de conscientização dos consumidores, tem inibido a produção de alimentos orgânicos em Sorocaba e região. Em 2009, o Sindicato Rural local contava com oito produtores na sua área de abrangência, num total de quatro cidades, mas hoje tem apenas um registro, uma fazenda na Serra de São Francisco que produz hortaliças. Já a Secretaria Estadual da Agricultura não tem nenhum levantamento preciso, mas estima que existam cerca de 200 agricultores divididos nas 19 cidades que abrange, com a maioria deles concentrada em Ibiúna.
Porém, a exemplos de outros países do exterior, como a Alemanha, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) pretende mudar o quadro brasileiro ainda neste ano, estimulando o crescimento e a organização do setor, que soma atualmente apenas 15 mil agricultores no País.Segundo o Mapa, desde 1º de janeiro de 2011, os produtores de alimentos orgânicos precisam ter selo do Sistema Brasileiro de Avaliação da Conformidade Orgânica (SiSOrg) para a comercialização dos produtos, uma forma de padronizar e organizar a produção e o comércio dos orgânicos. Essa normatização restringiu o desempenho de pequenos produtores, principalmente porque a certificação é paga, cerca de R$ 2 mil ao ano. Mas ainda assim, o governo federal aposta no setor. O desejo, entre outros, segundo informações do Mapa, é fazer do país a referência em produtos biológicos de controle de pragas, com a criação, inclusive, de uma delegação de especialistas para discutir o tema junto da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
Além disso, as leis brasileiras abriram uma exceção à obrigatoriedade de certificação dos produtos orgânicos para agricultura familiar, que hoje pode vender os orgânicos diretamente aos consumidores finais. Mas para isso os agricultores precisam estar vinculados a uma Organização de Controle Social (OCS). Porém, a prática têm sido difícil aos produtores locais. Segundo o presidente do Sindicato Rural de Sorocaba e Região, Luiz Antônio Marcello, sete agricultores espalhados entre Sorocaba, Salto de Pirapora, Votorantim e Sarapuí deixaram de produzir alimentos orgânicos devido às exigências e custo da certificação, além de ausência de incentivos, como políticas de redução de impostos para a área rural, projeto de melhor uso da água na agricultura, parceria entre produtores e Prefeituras para uso dos produtos na merenda escolar e feiras segmentadas.
"Existe muito ainda a ser feito para a conscientização coletiva de que o produto orgânico, apesar de mais caro, é mais benéfico à saúde - inclusive dos agricultores -, que não precisam ter contato com agrotóxicos. Mas o que percebemos também é que os governos ainda não desenvolveram políticas efetivas para o setor", afirma ele. Isso porque, além da dificuldade de custear a certificação, a produção orgânica depende mais do agricultor do que a convencional, que tem uma colheita mais rápida e menos chances de perda. "A agricultura tradicional não depende exclusivamente do homem como na orgânica, que precisa ser zelada justamente porque não utiliza-se agrotóxicos para acabar com pragas. Os alimentos orgânicos são mais sensíveis. Por isso, a produção exige mais mão-de-obra, o que encarece em até 15% o produto", observa ele, que acredita em propostas de incentivo como a do governo paranaense, de melhor utilização da água e baixo custo aos agricultores.
"Em Sorocaba não existe mais área rural. O imposto nestes locais é de área urbana. O mesmo acontece com a água, enquanto no Paraná o governo desenvolveu uma proposta voltada ao agricultor e reduziu seus custos", defende. Além disso, o sindicalista destaca que nos últimos quatro anos o sindicato rural desenvolveu oito cursos profissionalizantes e de gestão voltados ao produtor de orgânicos. "Havia um projeto de uma feira exclusivamente com produtos orgânicos. Não sei o que aconteceu, mas não saiu do papel", desabafa. Marcello tem como sugestão uma parceria entre os produtores e as Prefeituras para merenda escolar. "É fácil resolver e essas crianças precisam se alimentar bem. Uma forma de fazer isso era comprar os orgânicos para a merenda. Seria uma forma de manter o produtor no campo, já que essa cultura é mais desenvolvida no âmbito familiar", acredita ele, que também pondera, "mas o produtor também precisa se organizar e investir. O cultivo é demorado e exige planejamento". A Prefeitura de Sorocaba informou, por sua vez, que ainda tem interesse no setor e que há projeto, ainda sem previsão, de desenvolver o comércio de produtos orgânicos no Mercado Distrital, que está sendo reformado.
Fonte: http://portal.cruzeirodosul.inf.br