Lucio Martino
Os principais combustíveis de nosso corpo são ar, água e alimentos. E estes combustíveis devem ser da melhor qualidade. Respirar ar contaminado por anos seguidos, como fazem os que trabalham em minas subterrâneas, provoca sérias doenças respiratórias. Beber água insalubre é uma das principais causas da alta taxa de mortalidade infantil. E que tal comer alimentos temperados com agrotóxicos e pesticidas? A médio e longo prazo, esta atitude cobrará um preço do organismo.Durante toda a história da humanidade e até a metade do século passado, os alimentos cresciam apenas com adubos naturais.
Nossos avós e avôs foram criados somente com alimentos orgânicos. Mas, na década de 1960 e 1970, os Estados Unidos lançaram a “Revolução Verde”. Para salvar o mundo das fomes, era preciso modernizar a agricultura, utilizar sementes híbridas com fertilizantes sintéticos e combater pragas com pesticidades e herbicidas. A quantidade de alimentos no mundo cresceu. Muito. Mas e a qualidade?
O movimento para retornar a uma agricultura sem produtos químicos teve início na Europa. O inglês Lord Northbourne criou o termo “agricultura orgânica” em seu livro “Look to the Land” (1940), no qual ele promove o conceito da fazenda como “organismo vivo”. Trazer fertilizantes de fora, como produtos químicos, rompe o processo de equilíbrio do solo. A ideia vingou: Europa e EUA deslancharam a produção de alimentos orgânicos a partir dos anos 1970.
Na Itália, segundo país europeu a consumir produtos orgânicos (depois da Áustria), o nome mais usado é “biológico”. Em um país reconhecido como uma das melhores culinárias do planeta, a qualidade das verduras, legumes e frutas fazem parte da boa reputação nacional. Por isso, quando fomos convidados a visitar a fazenda Cascina Rosa (Quinta Vermelha) no Piemonte, aceitamos para poder aprender mais sobre o tema.
Lucio Martino e Paola Gradoni moram em Caraglio, na província de Cuneo. “Quando nos casamos em 1987, deixamos a cidade e viemos para o campo. Tínhamos apenas uma parcela de 1/3 de hectare (3 mil metros quadrados). Nossa intenção era plantar alimentos biológicos, sem venenos”, afirma Lucio. Hoje o casal e um dos três filhos gerenciam 7 hectares de terra, onde cultivam 23 espécies de hortaliças e frutas. “O preço da terra subiu muito, um hectare custa hoje 60 mil euros (150 mil reais). Por isso, precisamos diversificar e plantar produtos que possam ser consumidos in natura e também em conservas”.
É o caso dos pimentões amarelos e vermelhos. São vendidos frescos nas feiras de produtos naturais e nos supermercados da região e o excedente é transformado em um apetitoso antipasto. Paola comanda o laboratório onde as conservas e os doces são preparados. Seis senhoras da região utilizam seus conhecimentos culinários para preparar cerca de 50 produtos diferentes, de compotas a biscoitos. Lucio também possui mais de 100 colméias espalhadas pela propriedade. Além de ajudar a polinizar os cultivos, as abelhas produzem um mel de flores tratadas de forma orgânica, sem presença de pesticidas e herbicidas. Uma vantagem da agricultura orgânica é indiscutível: o sabor dos produtos é mais pronunciado. “Nossas maçãs, peras, framboesas e amoras possuem um perfume incomparável”, diz Lucio. “Unimos o bom sabor da mesa com uma vida mais saudável. O cliente paga uma pequena diferença, mas adquire um produto de melhor qualidade.”
A chácara também é autosuficiente em energia elétrica. Placas fotovoltáicas colocadas nos telhados produzem 16kW, o necessário para atender ao consumo da casa, do escritório, dos galpões, da cozinha e até mesmo de uma câmera frigorífica. Lucio também instalou um novo sistema de irrigação por gotejamento e agora usa apenas 10% a 20% da quantidade de água que utilizava antes. “O mais importante é nosso compromisso com a proteção da natureza do Piemonte”, afirma o agricultor. “Não usamos sementes geneticamente modificadas, fertilizantes químicos e agrotóxicos.” Lucio e Paola fazem parte de um crescente grupo de protetores do planeta que resolveram aplicar suas lutas por um mundo mais saudável ao cotidiano do campo. A cada ano que passa, este mercado aumenta. Nos Estados Unidos, a comercialização de alimentos orgânicos em 2010 chegou a 26,7 bilhões de dólares. Em todo o mundo, as vendas teriam ultrapassado a marca dos 60 bilhões de dólares. É um negócio promissor: é bom para a terra que é bem tratada, bom para os pequenos agricultores que podem viver de um trabalho nobre e bom para o consumidor que adquire alimentos mais saudáveis.
Fonte: http://colunas.epoca.globo.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário