O potencial do mercado brasileiro para produtos agroecológicos e orgânicos é duas vezes maior que o atual, segundo avaliação do Ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Reinhold Stephanes. Apesar de ainda se ver poucos produtos certificados nas gôndolas dos supermercados, pequenos agricultores se mobilizam para traçarem estratégias de ampliação da produção, baseados nos preceitos da Economia Solidária, onde o que mais importa é a cooperação, a autogesão e a solidariedade dos envolvidos.
A lógica do desenvolvimento sustentável permeia toda a discussão acerca da produção agroecológica, e é algo que parte das bases. Os governos, percebendo a tendência, adotam políticas públicas de incentivo e apoio, como é o caso das novas normas sobre as especificações dos fertilizantes orgânicos, medida tomada no final de julho pelo Governo Federal que deve introduzir muitos novos produtos no mercado. O Banco de Alimentos de Ponta Grossa desenvolve programas de segurança alimentar no município em parceria com pequenos agricultores que repassam parte da produção ao Governo Federal. De um total de seis projetos, três são de comunidades que aderiram à agroecologia.
Uma dessas comunidades é o assentamento Emiliano Zapata, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-terra (MST). Nesta segunda-feira o assentamento receberá a visita de integrantes do "Instituto Equipe" de Irati, da Rede Ecovida, que farão uma vistoria na produção de verduras e legumes dos agricultores para concessão da certificação participativa (ver box). "Esta produção ajuda a ampliar o mercado de orgânicos. Quem adere à agroecologia recebe 30% a mais do governo pela produção, mas o maior benefício é na qualidade da alimentação, quando o consumidor se dá conta disso. Em Curitiba já estão faltando produtos", afirma o coordenador do Banco de Alimentos e conselheiro Estadual de Segurança Alimentar e Nutricional, Roberto Mryzka.
O empresário César Tozetto, proprietário de supermercado, afirma que a procura em Ponta Grossa ainda é baixa. "Como os preços são mais altos, a maior parte dos consumidores acaba não comprando. O mercado se restringe a poucos clientes preocupados com questões de saúde e meio ambiente", explica. O único fornecedor de orgânicos do supermercado Tozetto é uma indústria de São José dos Pinhais.
Creche opta por alimentação com produtos agroecológicos
O Centro de Educação Infantil Toca das Corujinhas, da vila Boa Vista, prioriza a alimentação natural. Com produtos fornecidos pelo Banco de alimentos, as crianças recebem três refeições por dia e, segundo a assistente social Iara Schmitz, melhoram o rendimento no aprendizado. "Pensamos na vida das crianças como um todo, e a alimentação faz parte de sua formação, pois pode determinar o futuro de cada uma delas", afirma.
Rede nacional certifica produtos com selo ecológico
A Rede Ecovida, organização não governamental que estimula a produção de alimentos agroecológicos em todo o Brasil, estabeleceu um sistema solidário de geração de credibilidade, onde a elaboração e a verificação das normas de produção ecológica são realizadas com a participação efetiva de agricultores e consumidores, buscando o aperfeiçoamento constante e o respeito às características de cada realidade.
O selo Ecovida é obtido após uma série de procedimentos desenvolvidos dentro de cada núcleo regional. Ali ocorre a filiação à Rede, a troca de experiências e verificação do Conselho de Ética. Além de garantir a qualidade do produto ecológico, a iniciativa permite o respeito e a valorização da cultura local através da aproximação de agricultores e consumidores e da construção de uma rede que congrega iniciativas de diferentes regiões.
Produtores da região precisam de apoio
Apesar de todos os programas de incentivo para a Agricultura Familiar, a falta de assistência técnica ainda é uma das maiores reclamações dos pequenos produtores. Uma das soluções seria, portanto, a união dos próprios agricultores para uma forma alternativa de produção. Foi o que aconteceu no distrito de Itaiacoca. Anônio Ostrusk optou pela produção agroecológica quando percebeu os malefícios dos agrotóxicos. 'Cheguei a perder um rim por causa dos produtos químicos", conta. No início da década de 90, ele tinha uma roça em Teixeira Soares, e já aproveitava o que a natureza tinha a oferecer para produzir alimentos.
Na época, entretanto, ele só pensava na redução de custos. "Era remar contra a maré. Hoje temos apoio da opinião pública, pois o consumidor começou a perceber os benefícios da alimentação natural", explica. A Associação Solidária da Agricultura Ecológica de Ponta Grossa e Região é uma entidade que tem como foco a produção sustentável, com a preservação do meio ambiente e desenvolvimento das famílias de agricultores. O presidente Edi Jorge de Oliveira dá o exemplo, produzindo feijão, milho e hortaliças; "São 14 famílias produzindo do jeito mais difícil, mas de forma correta. Já conseguimos convencer as pessoas que compensa produzir e consumir sem agrotóxicos", conta.
Em Palmeira, a situação está mais adiantada. Ao todo, 11 produtores da região possuem certicifação da Rede Ecovida. Três deles comercializam seus produtos na Feira do Produtor de Ponta Grossa. Ariginaldo Riffert é um deles. "Agroecologia é vida. A gente produz menos, mas compensa, pois estamos repassando um produto natural. Temos um custo maior de mão-de-obra, mas reduzido na aquisição de insumos. É pra quem gosta do que faz", diz o produtor.
O que é orgânico e o que é agroecológico?
A proposta da agroecologia se baseia em alternativas de produção que contemplam, basicamente, os pequenos produtores. Seus pilares se sustentam na contraposição à monocultura, à alta mecanização e à dependência de fertilizantes e pesticidas químicos. O consumo local e a distribuição de terras são suas bandeiras. Já agricultura orgânica, que se enquadra no conceito de agroecologia, se concentra no caráter biológico, com vistas à alimentação natural.
Para tanto, não se faz uso de produtos químicos e nem insumos geneticamente modificados. A ênfase está no solo saudável, buscando uma qualidade superior à dos alimentos convencionais. "É mais difícil conseguir a certificação internacional para alimentos orgânicos, pois as regras são mais exigentes. Só a descontaminação do solo pode demorar cinco anos", explica Roberto Mryzka.
Fonte:Jornal da Manhã