Por
que não se consomem produtos orgânicos em maior quantidade? Foi essa pergunta
que motivou o projeto de pesquisa 'Da produção ao consumo: um olhar integrado
sobre o mercado de alimentos', desenvolvida no âmbito do mestrado do Programa
de Pós-Graduação em Sistemas Ambientais Sustentáveis (PPGSAS) da Univates.
Coordenado pelo doutor Marlon Dalmoro, o estudo tem como objetivo analisar o
mercado de alimentos orgânicos, na amplitude de sua estrutura, desde a produção
até o consumo, sob perspectiva cultural, tecnológica e estratégica.
'O
mercado, que envolve um conjunto de agentes e técnicas, qualifica-se como um
lugar de encontro e intermediação de aspectos econômicos e de elementos
culturais e sociais importantes para o sucesso de um produto. Dessa forma, a pesquisa
lança um olhar integrado e interdisciplinar sobre o assunto', explica Dalmoro.
Nesse projeto, a análise é focada no suco de uva orgânico e conta com auxílio
da Vinícola Garibaldi - pioneira na oferta desse tipo de produto.
Na
pesquisa, são investigadas as diferentes pessoas e organizações envolvidas
desde a produção da uva orgânica, passando pelo processo de transformação e
comercialização, até a chegada ao consumidor final. Também são abordados os
significados dos orgânicos para os participantes de toda a cadeia. 'Os aspectos
técnicos não podem ser compreendidos só do ponto de vista técnico, mas também a
partir do significado para os consumidores, pois, muitas vezes, a ideologia
pode ser a principal barreira tanto para o consumidor como para o produtor',
argumenta Dalmoro.
Um
exemplo disso é a idéia de que não pode haver vegetação no solo onde estão
plantadas as parreiras. 'No cultivo comum, com uso de agrotóxicos, realmente
não cresce capim. Porém, no cultivo orgânico isso não só ocorre como é recomendado,
como forma de proteção do solo', argumenta o professor ao se referir ao
imaginário dos produtores. Por outro lado, a mudança dessa visão tem garantido,
em alguns casos, a permanência de herdeiros nas atividades de plantio. 'Já
ouvimos relatos de jovens que ficaram nas propriedades apenas com a condição de
que o cultivo fosse orgânico. Caso contrário, eles prefeririam migrar para
centros urbanos onde pudessem realizar outras atividades profissionais a
realizar o cultivo com o emprego de insumos', exemplifica o coordenador da
pesquisa.
De
acordo com Dalmoro, a Serra é uma das regiões do Rio Grande do Sul com maior
consumo de agrotóxicos, de forma que a cultura de orgânicos é uma opção mais
viável tanto para o meio ambiente como para o próprio produtor, que diminui sua
exposição aos agrotóxicos. 'Sem contar os ganhos financeiros, pois um produto
diferenciado possui valor agregado maior. A pesquisa identificou que o
consumidor está disposto a pagar de 20% a 30% a mais por um produto orgânico',
afirma o professor. No imaginário do consumidor, ele acrescenta que o consumo
de orgânico é visto como duplamente benéfico, visto que é reconhecido como uma
alternativa sustentável e mais saudável.
Para
a Vinícola Garibaldi, a pesquisa oportuniza conhecer melhor toda a cadeia do
suco orgânico de uva, já que o projeto tem grande importância para a
Cooperativa. 'Tem sido importante compreender o público consumidor, as
expectativas que ele tem com relação ao produto e ao seu posicionamento no
mercado. A partir disso, a Cooperativa Vinícola Garibaldi tem iniciativas de
adequação do projeto de orgânicos, uma vez que o incentiva muito', justifica
Lara Silvestrin, do departamento agrícola da Garibaldi.
Um
dos diferenciais da pesquisa é a abordagem sobre produtos de cadeia longa. De
acordo com Dalmoro, geralmente são analisados apenas produtos de cadeia curta -
cuja relação produtor-consumidor é direta. 'Nosso objetivo é ver justamente
como isso se dá em um produto de cadeia longa, que é mais complexa por passar
por uma empresa transformadora e por um varejista antes de chegar aos
consumidores', argumenta ele, acrescentando que o estudo realizado até o
momento aponta a falta de uma rede articulada para que houvesse consumo maior
de orgânicos. 'Não é só um agente que faz acontecer, pois se a produção não é
disponibilizada ao consumidor, a cadeia não se completa. Da mesma forma, não
adianta haver grande demanda por parte dos consumidores se não houver produção
suficiente ou empresas que façam a transformação da matéria-prima em produto
para ser disponibilizado pelos varejistas', conclui ele.
Fonte:
http://www.folhadomate.com/