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terça-feira, 7 de setembro de 2010

Na Itália, agricultores e governo travam batalha envolvendo milho geneticamente modificado

Giorgio Fidenato declarou guerra ao governo italiano e grupos ambientais em abril, com uma coletiva de imprensa e um vídeo no YouTube que o mostrava remexendo seis sementes de milho geneticamente modificadas em solo italiano.Na verdade, disse Fidenato, agrônomo de 45 anos, ele plantou dois campos inteiros de milho geneticamente modificado.Mas, como "milho se parece com milho", como ele diz, seus opositores levaram várias semanas para encontrar sua plantação.s sementes, conhecidas como MON810, são modificadas para que o milho produza um químico capaz de matar as larvas da broca de milho, uma peste devastadora.
Embora regulamentações da União Europeia permitam o plantio desse tipo de semente em particular, a Itália exige que os agricultores obtenham uma permissão especial para qualquer plantação geneticamente modificada - e o Ministério da Agricultura nunca concordou."Não tivemos outra escolha, a não ser a desobediência civil - essas sementes são legais na Europa", disse Fidenato, que tinha solicitado permissão várias vezes, acrescentando ter se inspirado mais em Ron Paul do que em Mahatma Gandhi.
A Organizacao Mundial do Comércio diz que proibições gerais a plantações geneticamente modificadas constituem uma barreira injusta ao comércio, pois não há base científica para a exclusão.Porém, quatro anos depois que um painel de OMC decidiu que políticas da UE constituíam uma "moratória de fato" ilegal da plantação de sementes geneticamente modificadas, alguns agricultores, com é o caso de Fidenato, e produtores de sementes, como a Monsanto, reclamam que a Europa ainda não abriu realmente suas portas.
É verdade que um número pequeno, porém crescente, de países europeus hoje permite algum cultivo de plantações geneticamente modificadas, incluindo Espanha, Portugal e Alemanha.No entanto, apenas duas sementes geneticamente modificadas (MON810 e a semente de batata Amflora), entre dezenas do mercado global, conseguiram passar pelo trabalhoso processo de aprovação da Comissão Europeia, um pré-requisito para o uso.
Além disso, algumas áreas da Europa vêm se declarando, desafiadoramente, "zonas livres de organismos geneticamente modificados".A França, Áustria e Alemanha especificamente banem a MON810, afirmando crer que ela possa prejudicar plantações locais.Na Itália, um processo de aprovação kafkiano, no qual o Ministério da Agricultura jamais estabeleceu os requerimentos para o sucesso, torna as plantações geneticamente modificadas um caso perdido.
Essa lentidão reflete a veemente oposição pública em relação às plantações em muitas partes da Europa, mesmo que mais de três quartos da produção de milho, soja e beterraba nos Estados Unidos sejam geneticamente modificados.
Embora a ciência seja no mínimo inconclusiva, há uma convicção generalizada na Itália de que alimentos e plantações alteradas geneticamente representam perigos à saúde humana e aos ecossistemas.Após a provocação de Fidenato, investigadores realizaram testes genéticos para identificar a localização dos milhos ilegais no milharal que cerca este minúscula cidade.Autoridades confiscaram dois campos suspeitos - cerca de 5 hectares - declararam as plantações como ilegais.Ativistas do Greenpeace clandestinamente cortaram as franjas dos talos na esperança de evitar que o pólen fosse disseminado.
No dia 9 de agosto, cem ativistas ambientais de um grupo anti-globalização chamado Ya Basta empunharam facões, chegaram a Vivaro e derrubaram o campo antes que policiais locais pudessem intervir.Eles deixaram para trás placas com uma caveira e os dizeres: "Perigo - Contaminado - OGM [organismo geneticamente modificado]".Giancarlo Galan, que se tornou ministro da agricultura em abril, chamou os manifestantes de "vândalos", embora não tenha dito se permitiria plantações geneticamente modificadas.
Mas Luca Zaia, que anteriormente foi ministro da agricultura e hoje é governador da região de Veneto, aplaudiu a agitação, dizendo: "É preciso mostras às multinacionais que elas não podem introduzir plantações Frankenstein em nosso país sem autorização".Na última década, os alimentos geneticamente modificados vêm sendo uma grande fonte de atrito comercial entre a Europa e os Estados Unidos.
Tanto a Food and Drug Administration, dos EUA, como a Agência Europeia de Segurança Alimentar dizem que não há evidências científicas de que comer milho MON810 seja perigoso.
Porém, há um grande desacordo sobre como as plantas geneticamente modificadas afetam o ecossistema e se plantações tradicionais e geneticamente modificadas devem ser separadas para evitar o que agricultores orgânicos chamam de "contaminação" das plantações tradicionais por plantas ou genes modificados.
A semente ou pólen pode se deslocar com o vento ou em equipamentos agrícolas ou pneus de caminhões, às vezes por centenas de quilômetros.Este assunto é especialmente delicado na Itália, cujos agricultores dependem bastante de plantações especializadas orgânicas e de patrimônio, como centenas de variedades de tomate.As plantações contaminadas com material geneticamente modificado podem perder sua designação orgânica.
Agricultores temem que as plantas com genes específicos para aumentar a sobrevivência com o tempo possam substituir variedades tradicionais mais saborosas.O Greenpeace chamou a decisão da União Europeia de aceitar como segura a MON810 de "fundamentalmente falha", observando, por exemplo, que o químico que mata a larva da broca de milho poderia também prejudicar borboletas que pousam sobre as plantas.
Mesmo nos Estados Unidos, ainda existem reservas.
Neste mês, um juiz federal em São Francisco revogou a permissão para maiores plantios de beterrabas geneticamente modificadas, afirmando que o Departamento de Agricultura não tinha avaliado adequadamente as consequências ambientais; 95% das beterrabas nos Estados Unidos são geneticamente modificadas.
Com um parecer da OMC de um lado e um público relutante do outro, a Comissão Europeia tentou, nos últimos anos, alcançar um meio termo.Ela exige que os países estabeleçam procedimentos para separar plantações tradicionais e modificadas, como manter certas distâncias entre os campos.No entanto, propostas recentes dão às regiões cada vez mais latitude para negar a entrada dessas plantas se fornecerem provas científicas de que as sementes podem prejudicar o meio ambiente.
No entanto, grupos como a American Farm Bureau Federation dizem que os estudos usados para justificar a exclusão de plantações geneticamente modificadas não são satisfatórios.Aqui em Vivaro, agricultores estão divididos quanto à essa questão, disse Luca Tornatore, porta-voz da Ya Basta e astrofísico de Trieste, na Itália, observando que esse tipo de "blitz" do grupo não permitia muito tempo para o diálogo com moradores locais.Os moradores podem não saber muito sobre a ciência das plantações geneticamente modificadas, mas estão bem familiarizados com a larva da broca de milho, que fazem túneis nas espigas de milho, permitindo que fungos preencham o espaço em seu rastro.
Alguns dos fungos produzem micotoxinas que podem acabar indo parar em lugares como o leite de vacas que se alimentam de milho.Essas micotoxinas vêm sendo associadas a sérios problemas de saúde, incluindo câncer.Alguns agricultores espalham inseticida nas plantações para evitar a broca, mas ele deve ser aplicado no momento exato e deixa resíduos químicos, assim como um odor no ar.Outros agricultores simplesmente vendem o milho em grandes quantidades, ignorando o problema, segundo Fidenato, que mostrou uma espiga de um campo cheio de larvas e coberto com pedaços de penugem branca.
Ele alertou que, como o governo italiano não cede em relação às sementes geneticamente modificadas, ele comanda um exército de agricultores de toda a Itália, preparados para plantar a MON810 para obrigá-lo a fazê-lo.Entretanto, não está claro se a batalha de Vivaro terá um vencedor tão cedo.Esperam-se prisões ou pelo menos multas para Fidenato (plantio ilegal) e Tornatore (invasão e destruição de propriedade privada).



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